domingo, julho 05, 2009

CONTO: Sonho de uma manhã de Verão



Sonho de Uma Manhã de Verão
.


Nu. O corpo dele estendido na cama servia de pouso aos primeiros raios de sol. De olhos ainda fechados lançou o braço para o outro lado da cama, só para encontrar um lugar vazio e já frio. Abriu a custo as pálpebras e levantou-se ainda ensonado. Cambaleando, deixou-se guiar pelo olfacto até à cozinha onde o cheiro a café e torradas enchiam o ar matinal.

Abeirou-se da porta e observou-a de costas junto à bancada: como ele, também ela nada tinha a cobrir-lhe o corpo. As suas passadas comprometiam o seu pensamento. Endireitou-se e acertou o passo. Rápido, como a sua própria urgência, encostou o seu corpo nu ao dela e cruzou-lhe os braços no baixo ventre, enquanto os lábios lhe tocaram demorada e lentamente a base da nuca. Ela tremeu. Um arrepio incontrolável, um suspiro vadio feito de surpresa e envolto em desejo. Lentamente rodou-a, sem que os seus corpos descolassem. Sentiram cada centímetro da sua pele numa apaixonada fricção. Os dois olhares encontraram-se e os seus sorrisos soltaram-se numa silenciosa gargalhada que fazia estremecer os corpos. Ela, nos bicos dos pés e sem dificuldade, desafiadora, deu-lhe um beijo rápido e seco. Ele sorriu-lhe e fechou demoradamente os olhos, inclinando para trás a cabeça. Pouco depois, sentiu os lábios dela contra o seu peito, em repetidos e pequenos beijos, e a sua língua provocando as suas zonas erógenas.

Olhou para baixo. Segurou-lhe delicadamente a cabeça entre as mãos e, carinhosamente, beijou-lhe a testa. Ela parou e trocaram cumplicidades no olhar. Lentamente, os seus lábios uniram-se. Uma, duas vezes... até as bocas se fundirem e as suas línguas se encontrarem numa húmida e confusa dança. Ele sussurrou-lhe ao ouvido: "Desejo-te." - E sugou-lhe discretamente o lóbulo.

A respiração acelerou. As mãos subiam e desciam pelos corpos, acompanhando o bailar das línguas e das cabeças que se opunham e inclinavam repetidamente. O olhar dele percorreu a cozinha e, com ligeireza, fez desaparecer a fruteira de cima da mesa. Sentou-a numa extremidade e puxou-a para si. Sentiu-a..., mas não avançou. Empurrou-lhe o corpo para trás ao mesmo tempo que lhe amparava as costas com uma mão, enquanto a ia beijando cada vez mais para baixo. Demorou-se no interior das suas coxas e os pés dela descansaram nos seus ombros. Ela arqueou as costas e pousou as mãos na sua cabeça, emaranhando os seus dedos longos e finos nos cabelos, ao mesmo tempo que o seu quadris iniciava um movimento rítmico e descoordenado com a boca que a beijava. Subitamente, lançou os braços para o lado e apertou com força a borda da mesa. O seu corpo descreveu um arco impossível e um gemido junto com um pedido ecoou, sílaba a sílaba, num forte suspiro – "Que...ro...-teee a...go...raaaa!"

Desajeitadamente, ela puxou-o em frenesim. Ele levantou-se. Uniu-lhe as pernas ao alto e aproximando-se, penetrou-a... vagarosamente. Sentiram cada momento, enquanto os seus corpos se fundiam num delicado movimento contínuo. Os braços dele abriram ao acompanhar as suas pernas. Libertou-lhe os tornozelos, descendo os dedos até junto ao seu prazer e depois subiu, torneando-lhe a cintura. Uniu os polegares perto do umbigo e puxou-a mais... e mais. Depois, deitou o seu tronco sobre o dela e fitou-a profundamente como se lhe perscrutasse a alma. Reparou como os seus olhos haviam ficado mais claros e a sua pele se tinha tornado túrgida. As suas mãos procuraram-se e os dedos entrelaçaram-se firmes e suavemente. Beijou-a enquanto a pele dos seus corpos colava e descolava do peito ao baixo ventre numa ondulante agitação. Ela lançou-lhe as mãos para as nádegas e puxou-o mais para si. Depois libertou-o... e voltou a querer mais daquele vai-e-vem.

Naquele instante tudo teria de provar a sua existência. O que era a Vida. O que era a Morte. Ali, vivia-se e morria-se a cada milésimo de segundo, a cada eternidade que experimentavam. Ali, nada mais existia. Morria-se e vivia-se, novamente. Confusos, os seus corpos explodiam num turbilhão de sensações. Arrepios, calafrios e espasmos, secundados por um grito de prazer em uníssono, quase silencioso... ... ...
Depois, enquanto os seus corações ainda batiam acelerados, ele olhou-a e murmurou carinhosamente: "Amo-te!", beijando-lhe os lábios secos e ofegantes. Ela devolveu-lhe o mesmo olhar, ainda a tentar apanhar o ritmo da respiração: "Também te amo!". E à medida que os seus sorrisos se tornavam mais rasgados, ambos articularam: "Muito!". E os seus coniventes risos coroaram o esplendor daquela manhã.

© JdM

2 comentários:

Myosotis disse...

A tua escrita permite que se visualize mentalmente tudo o que escreveste. Mas gostei especialmente do útimo parágrafo, o mais romântico :)

P.S. Só espero que as tuas filhas pequeninas não descubram este texto antes de fazerem 18 anos! :P

LittleHelper disse...

Myosotis,
Ainda bem que gostaste. Embora o último parágrafo não seja suficiente para um livro... :P

P.S. A minha filha mais velha tem quase a tua idade, e pedi-lhe também a opinião (estou à espera). A mais nova... provavelmente dir-me-ia: "Pai, és maluco?" :)