quinta-feira, maio 28, 2009

Deus Misericordioso...
Aborto ou (que) vida(s)?


Sou agnóstico. Sou pró-vida e a favor da despenalização do aborto. Contudo, esta não é – não a vejo como –, nem NUNCA poderá ser uma questão tomada com leviandade.

Gianna Jessen (sobrevivente de uma tentativa de aborto) faz (encontrada originalmente aqui), com toda a convicção, um poderoso e emotivo testemunho, a que ninguém poderá ficar indiferente. É impressionante e confrangedor. Todavia, este é um tema delicado e tão mais abrangente quanto mais juízos e conceitos por ele clamamos e tendemos a elaborar.

Diria que, não basta olharmos para cima e agarrar-mo-nos a um Deus Pai que se diz Misericordioso, quando nós próprios não seguimos os Seus Ensinamentos. Recusamos escutar o outro, não meditamos sobre as suas acções – pesando devidamente prós e contras – e, dentro de uma equilibrada sabedoria (porque “infinita” estará reservada a Ele), (ainda) não conseguimos, não sabemos ou não queremos perdoar. Onde é que aqui entra o ser Cristão?...

Estou convicto que ninguém é a favor do aborto! Mas também penso que não se pode ver essa remota possibilidade na cabeça de uma mulher sem nos consciencializarmos que ela só a considerará (à possibilidade, não logo o acto em si) dentro de uma infinita dor e imensa angústia. Dependendo da razão – e na certeza que ninguém o faz como método "contraceptivo" –, a mulher SOFRE! Sofre de uma forma indescritível e porventura, sem sequer se aperceber, estará a abrir a sua própria Caixa de Pandora! Prolongar e intensificar esse sofrimento, com acusações e julgamentos sumários, não dignifica nenhum ser humano. E, seguramente não será desta forma – de costas voltadas, presos a alucinantes dogmas – que a obra, de quem quer que seja, será algum dia glorificada. Penso eu...

Por último (sem querer colocar nenhum ponto-final), gostaria de responder a Gianna Jessen, dizendo que tipo de homem sou. Dir-lhe-ia que me vejo como aquele que ouve uma amiga em aflição e profundamente perturbada por – força de inúmeras e involuntárias vicissitudes –, ter de tomar a PIOR decisão da sua vida. Não a condeno, nem sequer a julgo. Limito-me a transmitir-lhe a paz que for possível criar dentro da consternação do momento. E, depois... após um longo, calmo e elucidativo diálogo, ser capaz de dizer: “Seja qual for a tua decisão, tens todo o meu apoio e respeito. Estarei sempre do teu lado.”...

6 comentários:

Mad disse...

Muito bem dito. Muito bem mesmo.

Ninguém é a favor do aborto, a não ser que este seja a alternativa menos horrível, claro. Como ninguém é favor do assassinato, a não ser que a vida de um filho, por exemplo, dependa disso. E neste exemplo concreto de defesa de uma cria, uma mãe mata friamente, deliberadamente, furiosamente, e não me venham com tretas.

Gostei muito do que escreveu.

LittleHelper disse...

Mad, obrigado :)

Pedro disse...

Excelente descrição de uma visão com a qual me identifico plenamente!!!
Também acho que há formas e formas de efectar um aborto, e prazos também claro, e que o que mais impressiona quem vê (a mim pelo menos) o testemunho da Gianna é a de imaginar o sofrimento de um bébé de 7 meses a ser "queimado" por dentro com uma solução salina, segundo as palavras dela.
A morte pode até, por vezes, ser "misericordiosa" mas a morte lenta e com sofrimento certamente nunca o é!

LittleHelper disse...

Pedro, e isso levar-nos-ia a discutir (no melhor sentido, claro) a eutanásia.

Obrigado pela visita e pelo comentário. :)

Myosotis disse...

Tens muita razão no teu texto. Aborto e Eutanásia são temas tão delicados e que podem ser vistos de tantos prismas que até tenho medo de me pronunciar acerca deles. Sou a favor da vida acima de tudo, mas nunca me vi no sofrimento de quem vive essas situações desesperantes. Porque tomar partidos analisando fora é muito fácil...

LittleHelper disse...

Myosotis,
Não vejo porquê do medo... Eu sou todo ouvidos :) (descomprimindo)

Acho que deves imaginar – nem precisa ser neste assunto específico – o quer é precisar de alguém que nos ouça, que nos ilumine um pouco o caminho e aperceber-se que estamos rodeados de déspotas e narcisistas. É revoltante e ultrajante. Já para não dizer que pouco ou nada fazem (ou, no fundo, desajudam).

Sou contra dogmas. Já tive provas suficientes de que não existe uma verdade absoluta. Gosto de ajudar, mas sei que contribuo pouco (daí o meu nick). E isso dá-me um enorme sensação de impotência. Mas, cá vou fazendo o que posso... :/

:)