terça-feira, setembro 15, 2009

Grande Ary!

Um dos meus preferidos poemas de Ary dos Santos:

Serei tudo o que disserem por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário fogueira de exibição
teorema corolário poema de mão em mão
lãzudo publicitário malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem: Poeta castrado não!

Os que entendem como eu as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse sempre que faço um poema;
saudade que se partisse me alagaria de pena;
e também uma alegria uma coragem serena
em renegar a poesia quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu a força que tem um verso
reconhecem o que é seu quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala - é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história - a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem por temor ou negação:
Demagogo mau profeta falso médico ladrão
prostituta proxeneta espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:

Poeta castrado não!


2 comentários:

Myosotis disse...

Não conhecia, gostei muito :)

LittleHelper disse...

Myosotis, aposto que o teu desconhecimento era sobre este específico e que conheces muitos outros poemas de Ary... :)