Pode gerar-se um misto de mágoa e contentamento quando vemos alguém a enrolar-se obstinadamente na sua própria teia, quase sempre como resultado de sentimentos confusos, reprimidos ou debilmente estruturados, os quais se tentam empurrar para os outros. Na verdade fugimos e escondemos-nos do nosso próprio reflexo, com medo do outro eu. Uma coisa é certa – independentemente do caminho escolhido –, haverá sempre um preço a pagar. O pior é quando esse preço é a liberdade da própria consciência.
Vicky Cristina Barcelona (VCB) pode não ser um dos melhores filmes de Woody Allen, mas tem de se admirar a contínua consistência e mestria do autor em retratar as emoções, reacções e singularidades do espírito humano. Se pode parecer que raia a promiscuidade gratuita é porque não conhecemos tão bem assim o mundo que nos rodeia. VCB apresenta-nos duas personagens centrais que, embora perfeitamente antagónicas e fieis aos seus princípios, expoem-se e sujeitam-se a ser abaladas no seu universo moral e emocional.
Dir-se-á que, numa primeira reacção a qualquer proposta indecente – por mais despropositada e/ou chauvinista que esta possa parecer –, teremos sempre os seus objectivos básicos cumpridos quando, lá bem no fundo, se mexe inexoravelmente com a líbido de qualquer um(a). Todos sabemos lidar com isso, garantidamente de uma forma que, não classificando nem de "melhor" nem de "pior", são com certeza distintas e adequadas à maneira de ser de cada um de nós. E, porque não dizê-lo; de quantos copos de tintol já desceram pelo estreito, funcionando como catalisador para a – às vezes desejada – desinibição. Porque o (bom) vinho e a boa música são peças fundamentais neste filme... e na vida.
Fazer sempre o que nos dá na real gana e saltar para a próxima aventura, poderá parecer mais irreverente do que inconsciente, embora isso não seja forçosamente igual a adeptos de relações fugazes ou descartáveis para o resto da vida. No cômputo, se se sai mais rico ou mais pobre de uma relação obriga-nos a questionar peremptoriamente aquilo que realmente procuramos dentro ou fora dela. E isso é bem notório na genial narrativa, em jeito de reflexão, no final do filme.
Já havia agendado e voltado a agendar a sua visualização. Tinha fortes reservas em fazê-lo. Agora já sei porquê. :/
2 comentários:
Esperei anciosamente este filme durante meses e quando o vi no cinema, vim de lá decepcionada. Apesar da mestria do autor de que falas, a história deixou mt a desejar. Para mim o melhor do filme foi mesmo a interpretação da Penélope Cruz. E não consegui evitar: a morena do filme irritou-me solenemente!! Espero que não existam muitas indecisas do género por aí =/
Então penso que compreendes o meu "vai-não-vai" para ver a obra. Tinha a sensação de que algo me iria abalar... e foi a morena. :(
Para ser sincero, eu que tenho uma "fixação" em morenas, fiquei deveras desiludido com o "escorreganço" da moçoila. Mas, é a vida e este tema daria tanto para conversar...
Bons feriados :)
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